Chumbo no rabo.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Entrou no elevador e apertou o botão, no seu melhor terno, com o cabelo penteado, com gel. Ele odiava aquele gel, causava dor de cabeça e ele se sentia desconfortável. Quando saiu do elevador com a mala na mão já suava, com o coração palpitando. Parecia tão patéticamente cheio de esperança, alegre e pensando que havia encontrado um segundo lar. Estava em um prédio de um jornal famoso da capital, em uma avenida movimentada, onde acontecia um acidente por dia. Era seu primeiro dia de trabalho.

Chegou na sua mesa. Ajeitou tudo. Colocou uma foto da sua parceira na mesa, a qual dormia e nem dava pela sua falta naquele momento. A mesa estava inacreditavelmente suja. O local inteiro estava sujo. Ficou prestando atenção ao ventilador que girava lentamente, até que foi interrompido por uma porrada na mesa. Ele comprimentou o chefe e perguntou se tinha alguma trabalho. O chefe mandou ele fazer uma matéria sobre alguma porcaria. Levantou para tomar água.

Quando chegou ao bebedor, ouviu barulhos na sala ao lado. No primeiro momento pensou que estivessem transando. Parou um tempo e ouviu. Estavam transando. Ficou mais um tempo analisando aquele som. Definitivamente estavam transando. Tomou água e o barulho cessou. Quando saía do bebedor, via uma loira nada mal com uma pasta provavelmente cheia de currículos. Espiou pela porta e o chefe secava suas mãos nas calças.

Sentou-se e começou a fazer sua matéria. Era um mundo difícil. Alguém lhe pediu o grampeador. Entregou. Não trouxeram de volta. O mundo conspirava contra ele. Ele morria de dor de cabeça, maldito gel. Terminou a matéria e foi até a sala do chefe. No caminho ouviu uma conversa.

- Se fodeu.
- Bem capaz, não vou fazer essa matéria e tomar um tiro lá no morro.
- Mas você vai ter que entrevistar as pessoas.
- Grande bosta, eu não vou.
- E como vai entregar a matéria?
- Vamos supor que eu fui lá, faço a matéria, entrego e não levo chumbo no rabo, que tal?
- Oh, sim.

Entregou a matéria Para o chefe. Saiu da mesa dele, olhou para os lados, tomou mais água, estava com a cabeça explodindo. Dobrou a esquina e voltou para sua mesa. Mais um dia de trabalho apenas começando.

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